quinta-feira, 4 de abril de 2013

Médicos de tráfego defendem 'Lei Seca' no STF

Especialista explica riscos de conduzir sob efeito do álcool. Associação defende maior fiscalização.
SÃO LUÍS – Médicos de tráfego foram ao Supremo Tribunal Federal (STF) defender, em audiência pública, a Lei nº 11.705/2008, mais conhecida como "Lei Seca", que prevê multa de R$ 1.915,40 e suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) quando o condutor de um veículo for flagrado com vestígio de álcool no sangue. Com a missão de atuar na prevenção de acidentes e diminuir suas consequências para a preservação de vidas no trânsito, o médico do tráfego é uma das 53 especialidades médicas reconhecidas, no Brasil, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (ABM). Em todo o país, são mais de oito mil médicos do tráfego em atuação.

Em São Luís, somente em fevereiro deste ano, as operações da Policia Militar (PM), por meio do Comando de Policiamento Metropolitano (CPM), resultaram em 166 autos de infração, 43 veículos removidos, 22 CNHs e 24 certificados de registro e licenciamento de veículos apreendidos, 13 motoristas conduzidos à delegacia e nove infrações administrativas. Até o início do mês de abril, 73 motoristas foram autuados, segundo dados da Companhia de Polícia Rodoviária Independente (CPRvind) da PM. De acordo com a diretora da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) no Maranhão, Rita Camarão, a tolerância zero para o álcool no sangue, implementada recentemente por meio de resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), já produz resultados. "O álcool, ainda, é a maior causa de acidentes no trânsito. Essa estatística foi provada. Onde foi implementada a tolerância zero, nós temos reflexos, nesses primeiros meses, de redução da mortalidade e acidentes em estradas e no feriado da Semana Santa. O álcool é um fator primordial na ocorrência de acidentes. Os motoristas estão sendo mais fiscalizados e, eu espero, mais conscientes. A educação para população adulta em geral tem que ser contínua. Beber é um ato legal, o álcool é uma droga legal, ninguém é preso por beber. Então, não é o fato de beber. É o fato de beber e dirigir", disse em entrevista ao Imirante nesta quinta-feira (4).

Efeitos da bebida alcoólica

Segundo os médicos do tráfego, a bebida alcoólica diminui os reflexos dos condutores. O álcool, segundo eles, condena, completamente, o ato de dirigir sob seu efeito e em qualquer concentração. "O álcool leva da euforia à depressão, aumenta a agressividade, diminui o tempo de reação e percepção de obstáculos, tira a visão periférica da pessoa. Então, o condutor tem dificuldade de andar em linha reta e de fazer curvas. Os condutores não conseguem enxergar obstáculos a uma distância segura e nem ter tempo de frear esse veículo a tempo seguro", explica a especialista.

Um estudo feito pelo Departamento de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) constatou a prevalência do álcool em 43,95% das mortes em acidentes de trânsito autopsiadas no Instituto Médico Legal (IML) em São Paulo. Segundo a diretora da Abramet, essa estatística se repete em todo o país. "Essa é uma estatística nacional. São Paulo é onde a gente trabalha melhor esses dados sobre o trânsito. Mas a gente só vai poder sentir os impactos da 'Lei Seca' a partir do próximo ano", afirma.


Os acidentes de trânsito causados por condutores alcoolizados, também, implicam em altos custos para a sociedade. "Os acidentes de trânsito e os acidentados obstruem nossos serviços de urgência e emergência. Tem cidades com estatísticas que mostram que 90% dos chamados do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em acidentes de trânsito envolviam alcoolizados. Então, isso é custo muito alto para a sociedade, para o poder público e para as famílias, que perdem jovens, pais de família e nada pode reparar isso", alerta a médica do tráfego.

Maior fiscalização

A associação defende maior fiscalização no trânsito. "A fiscalização é o caminho. Foi o caminho no uso do cinto de segurança. Muitas altas, quando mexem no bolso, as pessoas tendem a se educar mais facilmente. Eu costumo dizer que a gente não consegue viver democraticamente com leis. Se alguém não fiscalizar a gente, a gente costuma não fazer, não cumprir. Realmente, a gente precisa ter uma fiscalização mais rígida", explica Rita Camarão.

Com mais fiscalização e ações efetivas para educação no trânsito, é possível que o país possa sair do quinto lugar no ranking mundial de acidentes de trânsito. "O Brasil tem o compromisso perante às Nações Unidas de redução na mortalidade no trânsito até 2020. É um compromisso mundial", conclui.

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