segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Após um ano, PM acusado de matar estudante no Maiobão permanece em liberdade e trabalhando

Após um ano, PM acusado de matar estudante no Maiobão permanece em liberdade e trabalhando

Após um ano da morte do estudante Tárcio Kaique Pereira Pires, de 18 anos, familiares denunciam que o policial militar acusado do crime permanece em liberdade e trabalhando, normalmente, em atividades administrativas do 9° Batalhão da Polícia Militar (BPM), onde ele é lotado. Parentes acusam o delegado que deu início às investigações de conivência com o PM, e pedem mais agilidade à Justiça.
De acordo com o pai da vítima, o vendedor Ivaldo Rodrigues Pires, de 46 anos, o crime aconteceu no dia 27 de novembro, do ano passado, no Viva do Conjunto do Maiobão; mas Kaique ainda resistiu por 12 dias, internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), do Hospital Municipal Djalma Marques (Socorrão 1). Segundo Ivaldo, o rapaz precisou passar por uma cirurgia e mais três intervenções de pequeno porte para tratar uma infecção generalizada, em decorrência de o tiro ter atingido o seu intestino grosso.
O pai da vítima afirmou que somente após a morte do jovem, no dia 9 de dezembro, o soldado Sandro Morett Furtado de Oliveira, acusado de ser o autor dos disparos, teria se apresentado à Delegacia Especial do Maiobão, na companhia de um advogado, confessando todo o crime ao delegado Arlindo Assunção. Após ser ouvido, teria sido liberado. 'Além de nunca ter pedido a prisão preventiva dele, o delegado ainda nos disse que só passaria os dados do criminoso para nossa família, depois que concluísse o inquérito policial', declarou o vendedor.
Conforme relatos da família, Kaique havia saído de sua casa, localizada na Avenida 10, do Condomínio Luize, no Maiobão, na noite do dia 27, para ir a um aniversário no mesmo bairro. O pai do rapaz contou que, do local, ele e um grupo de amigos resolveram ir para o Viva, local onde o crime aconteceu.
Naquele lugar, o policial militar, usando um veículo Fiesta de cor preta e placa JHC-0403, teria passado por cima do pé da vítima e ainda batido com o retrovisor em seu ombro. Kaique teria questionado a falta de atenção do motorista, o que deu início a um desentendimento entre eles. Na ocasião, o PM teria saído do carro para discutir com o jovem e depois retornado ao veículo para pegar sua arma, deflagrando contra a vítima três tiros, sendo que dois deles falharam e apenas um atingiu o rapaz.
O projétil teria entrado e saído em dois pontos das costas do jovem, atingindo o intestino grosso, local sensível ao desenvolvimento de infecções, como a que ocorreu com Kaique. De acordo com Ivaldo Rodrigues, um dos amigos do seu filho ainda tentou lhe alertar que o acusado havia se armado. 'Ele disse para meu filho que era para Kaique correr que o policial estava armado, mas não deu tempo', revelou o vendedor.
Autoria do crime – Segundo Ivaldo Rodrigues, durante todo o período em que o filho ficou internado, a polícia não havia descoberto quem era o homem que atirou em Kaique. A placa do carro foi anotada pelos amigos do rapaz, no momento do crime, mas na averiguação foi constatado que se tratava de um veículo que havia sido roubado do estacionamento da Faculdade Atenas Maranhense (Fama), localizada no Turu.
Conforme detalhou o vendedor, a primeira pista para identificar o acusado partiu do próprio Kaique, quando a infecção ainda não havia alcançado um estado crítico e lhe permitia falar. Ele teria informado à sua irmã, Talita Pereira, que a pessoa que estava no banco do passageiro do veículo, identificado como Paulo Salomão, havia estudado com ela. Em uma pesquisa pelas redes sociais na internet, a jovem conseguiu descobrir o endereço do antigo companheiro de escola.
Tudo teria sido repassado para a polícia que, de acordo com o pai de Kaique, foi até a residência de Paulo, localizada também na área do Maiobão, para que ele prestasse esclarecimentos sobre o fato. Paulo se apresentou na delegacia, onde teria dito que havia entrado naquele veículo, na Avenida Rei de França, porque se tratava de um táxi pirata e que não conhecia o seu condutor.
Entretanto, quando Sandro Morett se apresentou na delegacia, confessando o crime e apresentado a arma que havia usado, a polícia constatou que o soldado era casado com a irmã de Paulo Salomão e que este, por sua vez, havia mentido para acobertar o cunhado. 'Foi só aí que ficou constatado que o homem que havia matado meu filho era um policial militar', afirmou Ivaldo Rodrigues.
Ivaldo contou ainda que, no início de 2011, após o fato ter sido amplamente divulgado na imprensa, ele procurou o Comando Geral da Polícia Militar, onde lhe foi informado que seria aberta uma sindicância para averiguar os fatos, podendo resultar na exclusão do PM. 'Conversei, primeiramente, com o coronel Zósio, e depois com o próprio comandante geral, coronel Franklin Pacheco. Eles me deram uma previsão que esse resultado deverá sair até o final deste ano. Nós queremos que ele seja expulso e não só afastado, por isso estamos aguardando ansiosos esse resultado', declarou o pai de Kaique, ressaltamdo que o PM trabalha normalmente na parte administrativa do 9° BPM, e que teria se mudado do Maiobão, logo depois de se apresentar na delegacia, alegando que estava sendo ameaçado. 'Como é que nós iríamos ameaçar uma pessoa se, até então, não sabíamos quem havia atirado contra Kaique?', argumentou o vendedor.
De acordo com Ivaldo Rodrigues, somente depois de um ano da morte de seu filho, o acusado foi notificado pela Justiça de que estaria respondendo a um processo criminal na comarca de Paço do Lumiar. 'A Justiça precisou ir até o 9° BPM para entregar a notificação, porque ele se mudou e não informou seu novo endereço. O que nós queremos é mais agilidade da Justiça. Eu sei que não é só o caso do meu filho que precisa ser julgado, mas nós queremos que o culpado seja punido', declarou Ivaldo Rodrigues.
Posicionamento do Comando – Segundo informou o coronel Franklin Pacheco, comandante geral da Polícia Militar, o soldado acusado pelo crime estava de folga e usou uma arma particular.
De acordo com o coronel Franklin, apesar de se tratar de um crime da natureza comum, sem relação com o procedimento policial, o comando decidiu levar o caso para o Conselho Disciplinar, diante à postura do policial militar. 'O comando, como faz em casos como este, agiu de forma antecipada em relação ao comportamento do militar, independentemente do resultado da Justiça. Fatalmente, ao final desse processo administrativo, esse policial deverá ser expulso da corporação', explicou o comandante geral.
O que diz a SPCC – Respondendo às acusações dos familiares da vítima sobre o procedimento adotado pelo delegado Arlindo Assunção, ao longo do inquérito policial, o superintendente de Polícia Civil da Capital, delegado Sebastião Uchoa, informou que o soldado Sandro Morett foi indiciado por lesão corporal, seguida de morte, e por receptação e que o delegado responsável pelas investigações não solicitou a prisão do acusado à Justiça, pelo fato de ele ter confessado o crime e por ter entregado a arma usada para balear o jovem e o carro roubado, dirigido por ele na ocasião. 'O delegado julgou desnecessário o pedido de prisão, pois entendeu que o acusado estava decidido a responder pelo crime, já que confessou e entregou as provas; além, é claro, de ter residência fixa, ser servidor público', explicou Sebastião Uchoa.
Em relação ao fato da alegação de o delegado ter se recusado a fornecer os dados sobre o acusado para a família, Sebastião Uchoa disse que tal procedimento é considerado natural em uma investigação. 'O delegado tem o dever de zelar pelo sigilo das investigações para garantir a integridade física dos investigados, da vítima e de seus familiares', ressaltou o superintendente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Adsens